Por Cátia Oliveira
“Laços de Cuidado: Construindo vínculos, rompendo estigmas do HIV” foi o tema do encontro realizado, na manhã desta quarta-feira (17), voltado para Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e Agentes de Combate às Endemias (ACE). O evento, que tem como objetivo compartilhar conhecimentos e reforçar a prevenção, a assistência e a proteção dos direitos das pessoas vivendo com HIV/AIDS, foi realizado no auditório do Centro Universitário Maurício de Nassau (Uninassau) Campus Paulista, no Centro, e continua nesta quinta-feira (18).
A iniciativa, promovida pela Prefeitura do Paulista por meio da Secretaria de Saúde, integra o conjunto de ações do Dezembro Vermelho, com foco no diagnóstico precoce e no enfrentamento ao estigma e ao preconceito relacionados ao HIV/AIDS, entre outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs).
A abertura do encontro trouxe uma mesa de debates composta pela superintendente da Vigilância em Saúde, Silvia Vasco; pela coordenadora da Política Municipal de HIV, AIDS, sífilis e hepatites virais, Milena Ribeiro; pelo representante Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids - Núcleo Pernambuco (RNP+ Pernambuco), Carlos Heráclito; e pela representante da Articulação AIDS em Pernambuco e educadora do Grupo Cactus Gênero, Beth Amorim.
Com importantes abordagens sobre a temática, o evento contou com exibição de material audiovisual, compartilhamento de informações sobre avanços e desafios sobre o vírus HIV e AIDS, além de trocas de experiências vivenciadas pelos servidores que estão participando da atividade.
De acordo com a superintendente da Vigilância em Saúde do Paulista, Silvia Vasco, o encontro é um momento importante de formação além de uma oportunidade para os agentes de saúde e de endemias, que funcionam como porta de entrada da comunidade na rede de saúde, poderem conhecer, de maneira mais ampla, os serviços de referência no cuidado às pessoas que vivem com HIV/AIDS no município. Dentre estes serviços estão o Centro de Testagem e Aconselhamento e o Serviço de Assistência Especializada (CTA/SAE).
“Este momento de hoje é muito importante pois funciona como uma capacitação. O foco é trazer informação específica para o tema, para os agentes de endemias e os ACS levarem para a comunidade. E, a partir do momento que identificarem uma pessoa nessa condição, vão saber agir de maneira mais qualificada para que não haja preconceito e o paciente não fique sem tratamento por achar que aqui no município não tem atendimento, pois aqui nós temos serviços de referência através do CTA/SAE”, ressaltou.
Conforme a gestora, nestas unidades de atendimento além de realizado o acolhimento, são disponibilizadas testagens rápidas e medicamentos de maneira gratuita. Após identificado o vírus do HIV, a pessoa é encaminhada à rede de saúde especializada do município, que inclui profissionais como psicólogos, enfermeiros, além de infectologistas, voltados para atender o paciente de maneira ágil e sigilosa.
A agente de endemias, Cláudia Kelly Bezerra da Silva, elogiou a iniciativa do evento destacando a importância da formação para quebrar preconceitos e ampliar atendimentos. “Essa capacitação é importante para que a gente possa orientar a população da melhor maneira possível, desconstruindo muitos estigmas, inclusive entre nós mesmas, para que as pessoas percam o medo e a vergonha de nos procurar, pois todos os encaminhamentos são feitos de maneira sigilosa para não expor as pessoas. E a partir dessa primeira escuta, o paciente vai iniciar as consultas e começar todo o processo de autocuidado com o recebimento das medicações apropriadas”, afirmou.
Para o representante da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids - Núcleo Pernambuco (RNP+ Pernambuco), Carlos Heráclito, de 54 anos, que vive há 30 anos com HIV, mesmo com muitos avanços no tratamento da condição ainda é preciso enfrentar desafios de várias ordens, entre econômicos, sociais e interpessoais.
Para ele, houve um significativo progresso no tratamento que, quanto mais cedo é iniciado, mais rapidamente a pessoa se torna indetectável, passando a não transmitir mais o vírus. Ainda de acordo com Carlos, é preciso que haja ainda mais avanços, sobretudo porque o tratamento não se resume a tomar o medicamento. Conforme o representante da RNP+ Pernambuco, é preciso que exista uma atenção humanizada, além de enxergado o lado social, bem como questões relativas à vulnerabilidade econômica.
“A pessoa com AIDS precisa viver também. Não é só buscar o remédio, tomar e ficar em casa. É preciso garantir o direito de ir e vir, pois há muitos companheiros que não vão buscar a medicação por não ter como se deslocar. Ao invés de pagar a passagem, preferem comprar um pão. Cerca de 80% das pessoas diagnosticadas com HIV, a gente chama de ‘movimento social PPP’, pobre, preto e periférico, por se encontrarem em situação de vulnerabilidade. Por isso, é preciso que sejam desenvolvidas políticas mais amplas para alcançar este público”, destacou.
Fotos: João Gonçalves